Fritada: Pedro e o TCE que Rebaixou

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Dr. Pedro Bustamante é intensivista e ex-preceptor da medicina intensiva do HC-FMUSP e diarista da UTI do trauma da mesma instituição!

Nesse episódio ele vai te mostrar como ele maneja um paciente com TCE e hipertensão intracraniana. Se liga nos highlights aqui abaixo:

Abordagem inicial

  • TCE é trauma!! Começar pelo ABCDE
  • A: Conversa e vê se via aérea está patente. Checa se cervical está protegida / colar cervical!
  • B: Avaliar se está confortável ou dispneico, com esforço respiratório. Avalia como está saturação, frequência respiratória.
  • C: Avaliar PA, saturação, perfusão periférica, estabilidade da pelve, procurar sangramentos não aparentes imediatamente
  • D: Avaliar o neurológico, pupilas, movimentação, Glasgow.
  • E: Expor e procurar lesões osteomusculares, avaliar extremidades
  • História AMPLA
    • Avaliar mecanismo do trauma
    • Medicações de uso contínuo
    • Passado médico
    • Last meal
    • Alergias

Avaliar a manutenção do colar cervical

  • Canadian C-Spine, NEXUS…
  • São critérios para avaliar se o colar cervical pode ser removido ou se exame de imagem é obrigatório
  • Paciente que não está totalmente acordado ou sob efeito de drogas, não permite remoção imediata do colar, pois ele não pode avaliar a presença de dor
  • Na dúvida, mantém o colar e faz imagem!
  • Habitualmente TC de cervical é o exame de escolha

Sistematização para avaliar a TC de crânio no trauma

  • Avaliar se há algo “extremo” – Grandes sangramentos, grandes desvios de linha média
  • Avaliar o subcutâneo – Procurar o local do trauma direto. Na topografia do trauma direto e na região do contragolpe (área exatamente oposta) são os locais de maior atenção. No local do trauma tem mais fratura de crânio, no local do contragolpe tem mais contusão e HSA.
  • Procurar na janela óssea fratura de crânio
  • Dar uma janelada para avaliar melhor sangramentos extra-axiais (deixar o parênquima um pouco mais escuro que o normal)

TCE – Paciente começou a rebaixar

  • Sempre fazer TC para avaliar catástrofes
  • O paciente pode rebaixar após algumas horas… Pode ser LAD (lesão axonal difusa), edema… O edema pode evoluir ao longo dos primeiros dias! Muito cuidado com traumas de alta energia
  • Reavaliar o ABCDE. Muito possivelmente o paciente precisa de proteção de via aérea!
  • Cuidados básicos do neurocrítico (“pacote básico”… “Soft pack”)
    • Cabeceira a pelo menos 30-45 graus
    • Facilitar retorno venoso (jugular livre, cabeça centrada)
    • SatO2 > 92%
    • PA adequada (ver abaixo)
    • Cateter central no TCE é “baixo” – Ir para a femoral, evitar invadir a jugular para evitar atrapalhar a drenagem venosa
    • Manter sódio na metade superior da normalidade (140-145)
    • pCO2 próximo do limite inferior (normocapnia perto de 35)
    • Controle de temperatura (alvo em torno de 36 graus, com uso de colchão térmico se necessário)
  • Meta de PA no TCE
    • Super controverso!
    • Tentar manter perfusão com PAM > 80 e PAS > 110… No paciente que não tem cateter de PIC para monitorizar invasivamente (a maior parte dos pacientes no PS)

Avaliando hipertensão intracraniana

  • Bainha de nervo óptico
    • Avaliada com USG à beira do leito
    • Pode ajudar ao avaliar variações “para cima”… Bainhas aumentadas sugerem HIC
    • Ela é ruim para seguimento em quem já tem diagnóstico (uma vez que ela “aumenta”, ela não volta ao normal rapidamente)
  • Doppler transcraniano
    • Demanda treinamento e permite seriar medidas
  • Avaliação clínica
    • Glasgow e pupilas
    • Lentificação do reflexo, anisocoria
    • Rebaixamento (objetivamente: Queda de 2 pontos no Glasgow)
    • Postura patológica
  • Se houve piora em algum dos critérios acima  → Nova TC e progride o tratamento!

Tratamentos para hipertensão intracraniana

  • Intubação e sedação
    • Paciente sem monitorização com PIC, pode-se ser mais agressivo e sedar para RASS -4 a -5
    • Preferência por propofol – É mais rápido para permitir despertar do paciente
  • Ventilação e alvo de CO2
    • Hipocapnia causa vasoconstrição cerebral → Menos sangue no SNC reduz a pressão intracraniana, mas diminui o fluxo cerebral, podendo fazer isquemia
    • É uma medida efetiva, mas é danosa a médio prazo.
    • Pode ser útil como medida de ponte para outro tratamento.
    • Alvo de CO2 inicial em torno de 35 (normocapnia tendendo ao limite inferior da normalidade)
    • Pode guiar pelo etCO2 (COexpirado na capnografia) após avaliar o gap de CO2 em comparação com a gasometria arterial
  • Terapia osmótica
    • “Salgadão” (NaCl hipertônico) ou manitol
    • Salgadão é mais prático do que o manitol na maioria das vezes. Manitol é diurético e pode levar a diurese excessiva, com depleção volêmica e confusão com diabetes insipidus em alguns casos (pacientes com TCE podem evoluir com DI). Além disso, a segurança do manitol é monitorizada por medidas de osmolaridade, que é mais difícil de ser realizada no dia-a-dia.
    • O NaCl hipertônico é monitorizado pelo sódio, facilmente disponível
  • Maneiras de se montar o “salgadão”
    • NaCl 20%, 30-40ml, endovenoso em gotejamento (administrar em torno de 15 minutos)
    • Alternativa para periférico: Diluir um pouco – Pega os mesmos 30-40ml de NaCl 20% e dilui em 100ml de SF0,9%… Administra também em 15 minutos.
  • Monitorização de perto!
    • Glasgow, pupilas, posturas patológicas
  • Medidas “avançadas”
    • Craniectomia descompressiva – Muito controverso! Reduz mortalidade mas é difícil de avaliar se há ganho de funcionalidade no futuro.
    • Tiopental, hipotermia… São medidas não habituais e não devem ser feitas de rotina

Indicações de PIC no TCE

  • TCE grave (Glasgow < 8) ou TC alterada
  • Outra possível indicação – TC normal, mas com 2/3 critérios – Idade > 40 anos, postura patológica, PAS < 90 mmHg

Como usar PIC quando disponível

  • Avaliar duas coisas:
    • Valor da PIC (corte para HIC è 22 mmHg)
    • Curva da PIC → Em paciente com HIC há redução da complacência intracraniana, há mudança no padrão habitual da curva de PIC
  • Pressão de perfusão cerebral (PPC)
    • PAM – PIC
    • Quanto menor a PAM, menor a pressão de perfusão. Quanto maior a PIC, menor a pressão de perfusão.
    • Pacientes não monitorizados a tendência é deixar a PAM em torno de 80 mmHg.
    • Em pacientes monitorizados, pode-se guiar a PAM para manter PPC em torno de 60-65 (guiar pela PIC)
  • A PIC pode ser intraventricular ou não. Quando é intraventricular, ela é uma DVE (derivação ventricular externa).
    • Em pacientes com DVE é possível aumentar a drenagem de líquor para melhorar a PIC e a PPC
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