Hugo é ortopedista formado pelo IOT-USP, foi preceptor também no IOT e tem subespecialização em Ortopedia do Esporte. Além de ser um ortopedista e professor sensacional, é administrador do @e.osso , página que discute esportes e lesões esportivas de maneira super diferenciada!
Vamos discutir essa lesão potencialmente catastrófica que é a luxação de joelho! Você sabe o que fazer numa situação como a do jogador do vídeo? Confira os highlights abaixo!
Abordagem inicial ainda em campo
– Princípio básico do primeiro atendimento ortopédico: Minimizar danos! Não fazer mobilizações desnecessárias.
– Passo 1: Palpar o pulso! Avaliar se há lesão vascular. A lesão pode ser direta ao vaso ou “apenas” acotovelamento do vaso
– Se há deformidade, tentar alinhar o membro. Isso é diferente de reduzir. Alinhar é meramente trazer sutilmente a uma posição anatômica.
– Se não houver pulso, é possível tentar reduzir ainda em campo. Isso é uma excessão, pois o procedimento não é isento de risco. Aqui o procedimento pode ser feito pelo imperativo de gravidade do possível acotovelamento do vaso.
– Hematoma com rápida expansão sugere lesão arterial.
– Imobilizar o membro para levar ao hospital. Imobilizar uma articulação acima e uma abaixo. Usar anteparo qualquer (madeira, travesseiro, papelão, etc).
Luxação de joelho NÃO É luxação de patela
– A luxação de patela é bem menos grave do que a luxação de joelho
– Habitualmente, a simples extensão da perna reposiciona a patela.
– Por outro lado, a luxação do joelho envolve lesão de múltiplos ligamentos do joelho. Por definição, a ruptura de 2 dos 4 ligamentos principais do joelho (cruzado anterior, cruzado posterior, colateral medial e colateral lateral) configura luxação. Habitualmente, há instabilidade associada.
Mecanismo da lesão e complicações
– Habitualmente a luxação ocorre por hiperextensão do joelho.
– A partir de 30 graus, o LCA rompe. A partir de cerca de 50 graus rompe-se a artéria poplítea após romper também o LCP.
– Como a artéria poplítea é fixa distalmente e proximalmente, a hiperextensão faz com que ela seja distendida e pode romper.
– Além disso, o movimento posterior da tíbia, pode haver trauma direto da artéria poplítea com lesão vascular.
Diagnóstico
– Às vezes é óbvia, mas traumas de joelho devem levar à suspeição de luxação.
– Há pistas, como o mecanismo da lesão (acidente de carro com escoriações na patela, mostrando trauma no joelho)
– Um sinal que pode ajudar é o sinal da cova (a pele entra numa depressão no joelho, gerada pela deformidade)
– A radiografia é obrigatória. Radiografar sempre duas incidências – uma articulação acima e uma abaixo.
Complicações vasculares – Isquemia imediata e tardia
– Quando há lesão direta do vaso (luxação com deslocamento posterior da tíbia), há isquemia rapidamente, e o paciente pode chegar com sinais francos de isquemia.
– Quando há lesão por estiramento da poplítea (por exemplo, a tíbia luxa para frente), pode haver lesão da camada íntima e gerar hematoma/aneurisma do vaso, e evoluir com isquemia tardia. O paciente pode apresentar isquemia do membro nas primeiras 48 horas.
– Luxação de joelho precisa de avaliação de perfusão seriada nas primeiras 48 horas.
– Essa avaliação é feita com palpação de pulso pedioso a cada 4 horas.
– Se houver dúvida na perfusão (tempo de enchimento mais lento, sem sinais francos de isquemia), pode-se pedir uma angiotomografia das artérias da perna. C omo alternativa, pode-se fazer doppler arterial.
– Essa isquemia pode levar a síndrome compartimental e rabdomiólise.
Redução
– Se houver isquemia franca, reduzir imediatamente.
– Se não houver isquemia, fazer radiografia antes.
– A radiografia não vai mostrar lesão ligamentar, mas pode ajudar a mostrar qual é a posição do fêmur e da tíbia.
– Manobra de tração e contratração. Após reduzir, imobilizar um segmento acima e abaixo: pode-se fazer uma tala inguinomaleolar
– O ortopedista deve avaliar a estabilidade após a redução, para verificar a necessidade da fixação externa de urgência.